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Luiz Antônio Gaulia
luiz.gaulia@estacio.br

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC - Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University - ABERJE. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte. Atuou também no O Boticário e no Grupo Votorantim. Atualmente é Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Estácio Participações.

A comunicação interna acabou?

              Publicado em 23/10/2009

João é supervisor de segurança e também é o síndico do prédio onde mora. Patrícia é secretária da diretoria e organizou com suas amigas de faculdade uma roda de leitura. Fábio é contador e é também o presidente de um clube esportivo. Helton é engenheiro de produção e é o pastor de sua igreja. Marcos é estagiário, mas também organiza festas no final de semana. Carlos e Márcia estão no programa de trainees e também são voluntários num projeto ambiental. Olavo trabalha na área de remuneração e à noite é professor. Marcelo é advogado, e como acabou de se aposentar criou uma comunidade digital onde se relaciona com uma centena de participantes. Heloísa é da área de TI e vai ser candidata à vereadora.

E o que estes e estas ilustres profissionais têm em comum? São todos da mesma empresa. E o que isso tem a ver com o título deste artigo? Tudo.

A divisão entre o que é interno e o que é externo perde cada vez mais as fronteiras, pois empresa nenhuma é uma ilha, nem seus limites são definidos por seus muros. Não dá para separar mais uma coisa da outra, como se nós fossemos capazes de deixar de ser quem somos na vida social e “vestir” um personagem chamado “força de trabalho”, “funcionário” ou “colaborador”. O João, a Patrícia, o Fábio, eu e você, leitor (a) somos quem somos independentemente de nossas máscaras corporativas ou movimentos ensaiados e bem aceitos conforme o imaginário corporativo.

Por isso, não seria hora de percebermos onde termina a comunicação interna e começam as relações comunitárias, por exemplo? Ou, qual o impacto de uma comunicação interna falha, difícil ou mesmo inexistente para profissionais que são contribuintes, eleitores, formadores de opinião, líderes em seus círculos sociais? Para gente que conversa muito bem fora do local do trabalho, mas lá dentro não encontram espaço para o diálogo.

Mas o  que acontece com o ambiente de trabalho quando as pessoas (aqueles seres de carne, osso, raciocínio e emoção) recebem e-mails de amigos ou se informam pelas múltiplas redes sociais que a empresa onde trabalham teve a marca envolvida numa denúncia? Ou num acidente grave no meio da madrugada ou mesmo a visita da Polícia Federal? Como fica este ambiente corporativo quando internamente “reinou o silêncio” apesar dos fatos e da rádio corredor? Quando se fez de conta que nada aconteceu?

A dinâmica da tecnologia e a conexão global da informação (com suas milhares de fotos, opiniões, comentários e vídeos), em tempo real, fez as fronteiras se romperem. Melhor!  Se expandirem.  Não há como deter uma manifestação global on line sobre uma fraude eleitoral como no Irã ou a destituição de um presidente em Honduras. Pessoas estão conectadas em redes de relações. E estas redes têm ligações diversas, complexas e multidisciplinares. Incontroláveis, livres, extremamente flexíveis e fluídas. Estamos vivendo o ápice da aldeia global de MacLuhan, em tempos líquidos (como escreveu Baumann).

Por isso, a velha visão de que, ao entrarem pelo “portão da fábrica” ou sentarem em suas “baias” (nossa, palavra horrível) nos escritórios, as pessoas deixam do lado de fora suas vidas e o mundo das relações sociais é uma percepção equivocada, antiga. A idéia de que ao colocarem o capacete, os profissionais perdem seus cérebros (e seu senso crítico) caducou por completo. Concordam?

Mais cedo ou mais tarde, uma organização deste tipo vai precisar rever conceitos, métodos de trabalho, políticas de atração e retenção de talentos e fluxos de comunicação. Seja por força das novas e exigentes dinâmicas sociais ou a pressão natural das redes de relacionamentos entre os seus stakeholders. Seja por força da geração Y que já nasceu high tech, já está no mercado de trabalho e tem sua vida privada publicada na web comunicando abertamente seu jeito de ser e de viver.

Por isso, se na tal empresa onde o João, a Patrícia, o Fábio e mais algumas centenas de pessoas trabalham a comunicação interna se resume a informativos abandonados nos quadros murais ou ao “jornalzinho” que circula, mais ou menos, a cada dois meses, atenção! Se a comunicação interna ainda é chamada para “organizar aquela festa”, o churrasco de celebração de mais um recorde de produção ou escrever aquele e-mail sobre a retirada do vale-transporte, cuidado! Se a liderança ainda acredita em controles, com uma gestão que é avessa à comunicação, ao diálogo e não percebe o dinamismo das redes sociais existentes...crise à vista!

Ter abertura para o diálogo é agregar valor à imagem da empresa, é tratar as pessoas com respeito, inteligência. Porque os muros caíram e não protegem mais ninguém das denúncias, dos escândalos e da opinião pública. E a comunicação interna é apenas o reflexo do mundo e exterior e vice-versa. Não dá para controlar, mas dá para influenciar, conviver, interagir. Ou aceitamos isso, ou vamos elogiar a roupa nova do imperador, mesmo sabendo que o imperador está nu e a credibilidade da comunicação interna da empresa, acabada.


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 3566

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