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COLUNAS


Carolina Avellar


Jornalista e Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pós-graduada em Gestão Estratégica de Comunicação Organizacional e Relações Públicas pela ECA/USP e especialista em Comunicação Corporativa, Publicitária e Política pela Universidad Complutense de Madrid/Espanha. Com mais de 12 anos de experiência na área de Comunicação, já atuou como cliente, assessora de imprensa e repórter. É mestranda em Comunicação pela ECA/USP e desde 2011 coordena a área de imprensa e gestão de crises da Bunge Brasil. 

Velhos hábitos em um ano novo

              Publicado em 29/01/2014
Vai chegando essa época do ano e o mundo todo parece ser bonzinho. O ar está mais leve, as expectativas estão altas, a sensibilidade mais apurada e a gentileza ainda resiste. Afinal, é o começo. E, geralmente, os começos são bons. Acontece que nem sempre a gente chega preparado pra começar... De qualquer lugar de onde partirmos, sempre vai haver uma história, algumas marcas e um passado. Foi logo nos primeiros dias do ano que, voltando pra casa de ônibus, acabei me interessando pela conversa de duas jovens, que me despertaram para essa reflexão. Trabalhadeiras (como minha avó gostava de dizer), elas falavam alto e pareciam não se dar conta de que estavam em um espaço, digamos, público.
 
O tema era o velho. Na verdade, os velhos. As duas eram cuidadoras e reclamavam dos idosos, de quem tinham que tomar conta. O que mais me impressionou não foi o que elas diziam exatamente, mas a forma como se referiam aos velhinhos. Sem querer pregar o "politicamente correto", mas tenho para mim que os idosos merecem (e precisam) de cuidados tanto quanto uma criança. A dependência, a inocência e a falta de equilíbrio são quase as mesmas. Observei o diálogo por pouco tempo. Uns 15 ou 20 minutos, talvez. E, reforço, não foi suficiente para poder afirmar que havia qualquer tipo de maus tratos.
 
O que ficou bem claro foi a falta de gosto, ausência de envolvimento, carinho e afeto. Imagino que não deva ser uma tarefa fácil. Mas como pode ser possível uma pessoa lidar com a outra todos os dias, estar na sua casa, viver e conviver junto, sem o menor interesse, sem estabelecer conexão alguma? Uma das moças reclamava que o idoso (ela sempre dizia "o velho") de quem ela cuidava não falava nada, não dizia uma palavra, nem para falar que estava bom ou ruim... "Ele não se comunica comigo e eu não sei me comunicar com ele!", esbravejava.
 
Estamos em 2014 e provavelmente muitos que vão ler esse texto não conheceram a fita cassete e talvez reajam com surpresa ao encontrar um walkman, como o que eu usava no caminho do colégio para ouvir as músicas que passava horas esperando tocar no rádio só para gravar no micro-system. Alguns não tiveram a chance de acordar com um relógio-despertador, mas sim um celular que é alarme, cronômetro, gravador, filmadora, máquina fotográfica, tocador de música, central de jogos e ainda faz ligações. Só que na época que eu não tinha celular e usava walkman, minha mãe sabia exatamente onde podia me encontrar quando eu não estava em casa. Hoje, se ela me ligar para perguntar onde eu estou, pode ser que ela não me encontre...
 
Nesse ano novo e nesse mundo novo, não importa mais aonde eu, você ou qualquer um está. Você tem os recursos, as ferramentas, o GPS, mas pode não ser encontrado, se assim quiser. Não importa mais que horas são agora. Importa quanto tempo falta para o que você vai fazer daqui a pouco. A gente não precisa mais se preocupar em entregar um trabalho encadernado ou um documento importante em papel. É só jogar o arquivo na nuvem e acessar quando quiser. Portabilidade? Tamanho? Simultaneidade? Nada disso é problema se você tiver um pen-drive de vários gigas ou acesso à internet no seu celular.
 
Pensando em tudo isso, cheguei à conclusão que as moças trabalhadeiras pareciam ser muito mais velhas do que o idoso de quem elas diziam tomar conta. Modernas, descoladas e com seus smartphones, elas ainda cultivam hábitos envelhecidos, ultrapassados e desconectados. Elas trocam mensagens inbox no Face, fotos e vídeos no whatsapp, mas não sabem como se comunicar com um ser humano só porque ele não fala, não diz uma palavra. O grande (em todos os sentidos) filósofo, Mário Sérgio Cortella, disse uma vez em uma palestra, o que eu ouvi e nunca mais esqueci: a tecnologia é uma ótima ferramenta, mas não é exclusiva. Quem sabe cozinhar, cozinha no fogão à lenha. Quem não sabe, não cozinha nem em um fogão atômico.
 
Que fique bem claro: sou fascinada pela tecnologia. Mas, convenhamos, seria bem mais fácil fazermos nossas escolhas, se não houvesse tantas alternativas. Sem saudosismo, esse é o nosso novo mundo. Fato. Sendo assim, novos tempos exigem novas atitudes. Aproveite que o ano está apenas começando e avalie seus velhos hábitos. Tão importante quanto acompanhar o ritmo das mudanças é cuidar para não envelhecer. Não digo envelhecer fisicamente, e sim deixar-se levar pelo velho, aquilo que nos torna chatos, ranzinzas, retrógrados... Sabe como? 
 
A capacidade de prestar atenção nas mudanças do mundo, a humildade para ter dúvidas e questionar, a habilidade de se integrar às novas formas de comunicação - com ou sem tecnologia - e acima de tudo, a disposição para ouvir, são requisitos para sobrevivência daqui em diante. Isso tem a ver com você. Tem a ver com a sua vida. E para não perder o hábito de se referenciar ao passado, vale se lembrar do que Peter Druker, o pai da administração moderna, já dizia: O importante na comunicação é ouvir o que não está sendo dito.
 

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