Busca avançada                              |                                                        |                            linguagem PT EN                      |     cadastre-se  

Itaú

HOME >> ACERVO ON-LINE >> COLUNAS >> COLUNISTAS >> Rosana Miziara
COLUNAS


Rosana Miziara


Historiadora com mestrado em história social e gestora cultural. Foi coordenadora de cultura da região central de São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura e coordenadora de projetos do Museu da Pessoa, onde desenvolveu ações para grandes corporações, como Cia. Vale, Petrobras, SESC, CCBB, entre outras. Foi diretora da CDN Cultural, onde desenvolveu projetos voltados para a comunicação empresarial a partir da cultura. Atualmente é Relações Institucionais do Museu da Pessoa.

Nos rastros dos restos: as trajetórias do lixo na cidade e São Paulo

              Publicado em 17/06/2015

Muitas vezes escutei algumas tias mais velhas da minha família dizer: “eles não estão recolhendo o lixo”.  Perguntava-me quem são eles?

Um dia caminhando pela rua onde moro, mas precisamente numa quarta-feira, dia em que passava o caminhão da coleta seletiva, chamou-me a atenção a organização do lixo: mais parecia a seleção de restos, vestígios do cotidiano dos moradores. Em um das casas, certamente, houvera algum tipo de animação: seis garrafas vazias de vinho, muitas latinhas de cerveja, embalagens de pizza, uma sacola plástica de supermercado, através da qual era possível entrever copos de plásticos misturados com latas de refrigerantes, bitucas de cigarroe cascas de laranja e por cima desses possíveis testemunhos de uma festa haviam sido depositados flores murchas.

O tema do lixo para o campo da cultura e da história, ao qual me incluo é aparentemente estranho, porém está presente em debates constantes na imprensa, e vem sendo bandeira de movimentos ecológicos, associações, ocupando os interesses de empresas e governos municipais, estaduais e federais. Essa importância dada ao lixo e à presença cada vez mais assídua do tema em discussões políticas e econômicas as mais diversas indica que os restos possuem uma história que envolve instituições, interesses e valores fundamentais para o entendimento do espaço urbano. Entretanto, a versão ao lixo mostra uma tendência secular, muito mais ampla do que a nossa realidade paulistana ou brasileira. O lixo é algo relativo. Para uns, ele significa a morte dos objetos, cadáveres. E, como os cadáveres, deve ser embalado, afastado do olhar o quanto antes. O repúdio, o temor ao que não tem mais utilidade revela-se na forma como é descartado: essas coisas sem valor, que se amontoam, cheiram mal, representam sujeira, atraem moscas e ratos, são ameaças de doenças e poluição ambiental. Sua cara é a do atraso: onde há lixo parece não haver civilidade.

O arremesso da embalagem de óleo na lixeira, de forma automática, que não requer um segundo de raciocínio, nem meio de arrependimento, representa uma atitude recheada de conteúdos. Esse ato, aparentemente insignificante, resulta da introjeção de costumes que vêm sendo construídos ao longo da história.

No início do século XX aconteceu uma campanha em São Paulo que conclamava a população a caçar ratos e levar para o incinerador. Era pago uma quantia por cada rato recolhido. Essa Campanha fora liderada pelo Serviço Sanitário do Estado de São Paulo. Tempos depois o lixo passa a ser também uma questão do departamento de Limpeza e Obras da municipalidade, o que acarretará numa série de novas normas com o lixo, obrigando cada vez mais a população a se livrar dele e manipulá-lo o menos possível. Tarefa essa, delegada para serviços públicos e cada vez mais privados.

Outros tempos, hoje em que a população é conclamada a ser cidadã e a manipular o seu próprio lixo, no mínimo através da coleta seletiva.

Curioso é que neste momento em que resgato esse meu estudo sobre restos para essa Coluna que escrevo para a ABERJE sobre Comunicação e Cultura, inaugura em São Paulo na OCA a exposição: REVERTA – arte e sustentabilidade, sobre lixo e reciclagem. Acho que é uma exposição obrigatória para todos os públicos. E uma atitude nobre e corajosa de seus patrocinadores.

Mario D Domingos curador científico da necessária exposição REVERTA ressalta:

“É curioso o fato de conhecermos parte do legado cultural de povos antigos porque estudamos os resíduos que eles deixaram ao longo de sua existência. Por outro lado, é assustador saber que estamos deixando um legado bem diferente para as gerações futuras; cada um de nós produz, em média, mais de 35 toneladas de resíduos ao longo da vida. A produção de resíduos está entre os principais problemas ambientais da atualidade”.

 

 

A exposição "REVERTA – arte e sustentabilidade" propõe um olhar transformador sobre o que passa despercebido em nosso dia a dia.

Fica a dica, comunicação e cultura, arte e lixo!

 

MIZIARA, Rosana. Nos rastros dos restos: as trajetórias do lixo na cidade de São Paulo. EDUC, São Pauilo, 2001. Dissertação de Mestrado apresentada para a obtenção de mestrado na PUCSP em 1998


Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor. 2542

O primeiro portal da Comunicação Empresarial Brasileira - Desde 1996

Sobre a Aberje   |   Cursos   |   Eventos   |   Comitês   |   Prêmio   |   Associe-se    |   Diretoria   |    Fale conosco

Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial ©1967 Todos os direitos reservados.
Rua Amália de Noronha, 151 - 6º andar - São Paulo/SP - (11) 5627-9090